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Carta aos professores
Todos sabemos que o trabalho com a leitura na Educação Básica tem como finalidade contribuir para a formação do indivíduo e para sua participação cidadã no mundo em que vive. A leitura constitui uma das maneiras privilegiadas de contato do sujeito com o modo de pensar da sociedade em que vive. Isso coloca o material escrito − impresso ou digital − como uma importante fonte de obtenção de informações e conhecimento sobre o mundo e as pessoas, e sobre a relação das pessoas entre si e com o mundo.
O tempo em que vivemos está repleto de materiais escritos – impressos ou digitais em diferentes plataformas – com os quais as pessoas se relacionam em maior ou menor grau. Isso acontece nas mais diferentes esferas: do cotidiano, acadêmica, médica, científica, jurídica, de lazer e entretenimento, de turismo, entre outras, e em cada uma delas circulam textos organizados nos respectivos gêneros e com conteúdos próprios. Dos celulares aos notebooks, passando por caixas e correios eletrônicos, vemos espaços e instrumentos de suporte e circulação de mensagens grafadas – e gráficas – cada vez mais indispensáveis na vida de todos.
No entanto, ainda que essas referências nos remetam à relação constituída entre as pessoas e a linguagem escrita, sabemos que a literatura desempenha um papel muito especial.
Segundo Candido (1998), a literatura é uma das necessidades humanas fundamentais e, como tal, deveria ser considerada direito básico e inalienável, pois atua na formação do caráter dos sujeitos. Para ele, as sociedades criam suas manifestações literárias com base em suas crenças, seus sentimentos e sua moralidade. O autor afirma, ainda, que:
os valores que a sociedade preconiza, ou os que considera prejudiciais, estão presentes nas diversas manifestações da ficção, da poesia e da ação dramática. A literatura confirma e nega, propõe e denuncia, apoia e combate, fornecendo a possibilidade de vivermos dialeticamente os problemas. (CANDIDO, 1998, p. 113).
Por isso, ele defende a ideia de que não se pode considerar a experiência literária inofensiva ou inócua. Ao contrário, trata-se de uma experiência que não corrompe nem edifica, mas humaniza o homem, ao trazer livremente a ele − e, portanto, ao leitor − tanto o bem quanto o mal, possibilitando a vivência de diferentes realidades orientadas por princípios e preceitos distintos.
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A humanização seria, então, um processo que possibilita o exercício da reflexão, a constituição de diferentes saberes, a disponibilidade para o outro, a identificação e o afinamento das emoções, a compreensão dos problemas da vida e da complexidade do mundo e das pessoas, o cultivo do amor e o senso de beleza, tornando-nos mais abertos à sociedade e ao semelhante.
Diante disso, não é difícil compreender que, de todos os gêneros textuais, o trabalho com literatura – como a própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC) propõe – precisa de um cuidado especial do professor.
Por isso, foram elaboradas as orientações que serão apresentadas a seguir, as quais abrangem questões relativas à especificidade do texto literário; ao conhecimento do gênero da obra; aos critérios adotados na seleção da obra a ser estudada; às características da situação de comunicação na qual o texto a ser lido foi elaborado; ao estilo de escrita da autora, considerando os assuntos mais abordados em sua obra como um todo e no texto a ser estudado; às características linguístico-discursivas e semióticas da obra em estudo; aos procedimentos didáticos a serem adotados no planejamento do estudo da obra; à avaliação do estudo realizado.
Além dessas questões, serão apresentadas sugestões para a organização de um trabalho interdisciplinar e referências bibliográficas para estudo, visando ao aprofundamento e/ou à ampliação do conhecimento a respeito da obra e do trabalho desenvolvido.
O planejamento cuidadoso e a relação efetivamente reflexiva e dialógica com os estudantes poderão garantir o sucesso do trabalho, resultando na formação de um leitor mais proficiente, de um cidadão mais consciente das questões de sua época e de uma pessoa mais humanizada.
Vamos, juntos, nos embrenhar pela vereda da literatura, porque ler, conversar sobre o que foi lido, e perceber a si mesmo e ao outro nas reflexões coletivas pode nos tornar pessoas melhores.
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Sobre a obra
A autora
Karina Almeida
Escritora e pesquisadora, apaixonada por livros desde pequena, Karina Almeida adora ler e ouvir histórias. Nascida em São Paulo, em 1981, é formada em publicidade pelo Mackenzie, com mestrado na Paris 1, e atualmente cursando o doutorado em História da Arte na Unifesp. Auxiliou na fundação, em 2017, do Coletivo de Pesquisa e Criação Literária Jacaré na Porta, o qual desenvolve pesquisa e projetos de literatura infantojuvenil. Em 2020, publicou Muito prazer, sou Mário de Andrade, obra que reúne três grandes paixões da autora: literatura, história e a cidade de São Paulo.
A ilustradora
Ágatha Kretli
A designer gráfica Ágatha Kretli formou-se em 2008 em Design Gráfico pela Universidade Vale do Rio Doce, em Minas Gerais. Em 2021, concluiu o mestrado em Design da Comunicação pela Universidade de Lisboa, Portugal. Com uma linguagem artística única, Ágatha tem diversas publicações na área comercial, livros, revistas e campanhas publicitárias. Para saber mais, visite o site https://bit.ly/3RfUNSb e conheça o portfólio da artista.
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A obra
Sinopse
A dura vida de Maria Molle é uma narrativa envolvente, curiosa e muito divertida. A protagonista é uma garota muito especial. Ela mora em uma cidade pequena, mas quando chega a hora de escolher uma profissão, muda-se para uma cidade grande, onde buscará o sonho de se tornar uma guarda do Palácio do Reino de Lunnain. Contudo, Maria tem uma característica bem peculiar: seu corpo é bastante flexível e isso pode prejudicar seus planos.
Vivendo uma aventura de autodescoberta e superação, Maria Molle enfrentará dificuldades e ressignificará seus objetivos de vida com base nas experiências vivenciadas no palácio. Amizade, primeiro amor e aceitação são alguns dos temas abordados nessa obra.
O leitor tem acesso aos sentimentos e pensamentos de Maria, uma vez que ela é a narradora-personagem do romance. Além de compartilhar suas preocupações, Maria Molle conversa com os leitores: “Você também deve estar com muitas dúvidas, não é? Quem sou eu? Quem é Mark? Que palácio é esse? Vamos começar a esclarecer, então. Meu nome é Maria Molle. E nas próximas páginas vou explicar tudo direitinho” (p. 10). Nessa perspectiva, a obra literária constitui um espaço no qual é oferecido ao leitor um conjunto de recursos por meio dos quais é possível estabelecer relações com o texto.
A obra A dura vida de Maria Molle é um romance ficcional dividido em duas partes: a primeira tem 14 capítulos e a segunda, 13. O romance é um gênero textual que contém uma narrativa longa, escrita em prosa. Por se tratar de uma obra mais extensa, permite que a história seja contada com uma gama maior de detalhes, acontecimentos e possibilidades.
Assim como os contos e as novelas, os romances também são gêneros literários, em sua maioria ficcionais, e contêm elementos da estrutura narrativa semelhantes aos demais: enredo, tempo, espaço, personagens, narrador e construção do discurso (direto ou indireto).
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Contexto de recepção da obra
Por que ler essa obra
A dura vida de Maria Molle é um romance envolvente, que instiga os jovens leitores a descobrir como a protagonista, cujo corpo é todo molinho, poderá realizar seu desejo de fazer parte da guarda real. Ao perseguir esse sonho, Maria encontra algumas dificuldades, muitas aventuras e uma boa dose de autoconhecimento, com ajuda de Miraldina, sua amiga, de Mark, um confeiteiro que arranca suspiros, e de Rebeca, uma raposa que fala.
Apesar de ser um romance ficcional com elementos fantásticos, A dura vida de Maria Molle apresenta problemáticas comuns aos estudantes dessa faixa etária – como conhecer as próprias emoções e aprender a lidar com elas, motivar-se a ir além, cuidar dos relacionamentos e reconhecer os sentimentos dos outros –, sobretudo quando Molle é obrigada a repensar seus sonhos, no momento em que é expulsa da escola de guardas reais (final da Parte 1).
A obra também se destaca por razões linguístico-discursivas, uma vez que traz um enredo narrado pela protagonista jovem, envolvendo o leitor e transportando-o para “dentro” da história devido à descrição detalhada dos acontecimentos.
Além disso, a obra tem momentos engraçados, tristes e surpreendentes, prendendo o leitor do começo ao fim.
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O trabalho com a obra em sala de aula
Algumas recomendações que podem auxiliar o professor na organização do trabalho
Ao planejar o trabalho com uma obra literária, é preciso considerar tanto as características específicas dos textos dessa esfera/campo de atuação quanto aquelas que são comuns a todos os textos.
Ademais, é fundamental considerar que os sentidos de um texto estão na relação entre o texto e o leitor, o qual, ao reconstituir os sentidos do texto, ativa seu repertório prévio de conhecimentos e saberes relativos tanto ao objeto (texto, gênero, linguagem) quanto ao conteúdo temático do texto (situações referidas, sentimentos sugeridos, espaços e práticas sociais implicados, valores) e ao seu autor (estilo, temáticas prediletas, contexto das obras, entre outros aspectos). Nessa perspectiva, a obra literária constitui um espaço no qual é oferecido ao leitor uma gama de possibilidades de interpretação, o que acontece por meio da interlocução, da “conversa” do leitor com o texto, e de seus recursos e referências.
Por essa razão, é indispensável que seja feita a problematização desses aspectos, de modo a ampliar a compreensão dos estudantes. Para ser concretizado, esse processo de interlocução dialógica deve ser modelizado pelo professor – em trabalho coletivo – e replicado em situações de interação entre os estudantes (em grupos ou duplas).
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Antes da leitura
A leitura programada no trabalho com obras literárias
A leitura programada é uma modalidade didática de trabalho que tem a finalidade de criar as condições necessárias para ampliar a proficiência do estudante no que se refere à leitura de obras mais extensas e mais complexas. Nela, são planejados estudos pontuais da obra selecionada.
Para tanto, é preciso analisar a obra previamente, destacando aspectos a serem estudados, e que sejam considerados indispensáveis para sua compreensão com o maior grau possível de profundidade do que os estudantes fariam de modo independente.
Analise o grau de dificuldade provável que a turma teria em cada trecho selecionado para definir estratégias de abordagem e recursos auxiliares de problematização.
Planeje as atividades a serem realizadas antes da leitura da obra: recuperação do contexto de produção e dedução dos possíveis impactos desse contexto histórico nos diversos sentidos do texto; conhecimento do autor no que se refere ao momento em que escreveu a obra, aos temas recorrentes e ao estilo de escrita (para isso é importante ler com os estudantes, previamente, uma obra curta do autor, para que eles se aproximem de seu modo de escrever antes de começarem o estudo da obra de maior extensão e/ou complexidade).
Em seguida, planeje as atividades a serem realizadas durante a leitura da obra. Leve em consideração que a leitura de cada trecho deverá ser prevista com um intervalo de tempo entre elas, para que o leitor possa ir construindo ideias e possibilidades de como Maria Molle sairá de cada situação.
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Organização do trabalho
Habilidades priorizadas
HABILIDADES DA BNCC PREVISTAS NO TRABALHO
- (EF69LP44) Inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes visões de mundo, em textos literários, reconhecendo nesses textos formas de estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas e considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção.
- (EF69LP45) Posicionar-se criticamente em relação a textos pertencentes a gêneros como quarta capa, programa (de teatro, dança, exposição etc.), sinopse, resenha crítica, comentário em blog/vlog cultural etc., para selecionar obras literárias e outras manifestações artísticas (cinema, teatro, exposições, espetáculos, CDs, DVDs etc.), diferenciando as sequências descritivas e avaliativas e reconhecendo-os como gêneros que apoiam a escolha do livro ou produção cultural e consultando-os no momento de fazer escolhas, quando for o caso.
- (EF69LP46) Participar de práticas de compartilhamento de leitura/recepção de obras literárias/manifestações artísticas, como rodas de leitura, clubes de leitura, eventos de contação de histórias, de leituras dramáticas, de apresentações teatrais, musicais e de filmes, cineclubes, festivais de vídeo, saraus, slams, canais de booktubers, redes sociais temáticas (de leitores, de cinéfilos, de música etc.), dentre outros, tecendo, quando possível, comentários de ordem estética e afetiva e justificando suas apreciações, escrevendo comentários e resenhas para jornais, blogs e redes sociais e utilizando formas de expressão das culturas juvenis, tais como vlogs e podcasts culturais (literatura, cinema, teatro, música), playlists comentadas, fanfics, fanzines, e-zines, fanvídeos, fanclipes, posts em fanpages, trailer honesto, vídeo-minuto, dentre outras possibilidades de práticas de apreciação e de manifestação da cultura de fãs.
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- (EF69LP47) Analisar, em textos narrativos ficcionais, as diferentes formas de composição próprias de cada gênero, os recursos coesivos que constroem a passagem do tempo e articulam suas partes, a escolha lexical típica de cada gênero para a caracterização dos cenários e dos personagens e os efeitos de sentido decorrentes dos tempos verbais, dos tipos de discurso, dos verbos de enunciação e das variedades linguísticas (no discurso direto, se houver) empregados, identificando o enredo e o foco narrativo e percebendo como se estrutura a narrativa nos diferentes gêneros e os efeitos de sentido decorrentes do foco narrativo típico de cada gênero, da caracterização dos espaços físico e psicológico e dos tempos cronológico e psicológico, das diferentes vozes no texto (do narrador, de personagens em discurso direto e indireto), do uso de pontuação expressiva, palavras e expressões conotativas e processos figurativos e do uso de recursos linguístico-gramaticais próprios a cada gênero narrativo.
- (EF69LP49) Mostrar-se interessado e envolvido pela leitura de livros de literatura e por outras produções culturais do campo e receptivo a textos que rompam com seu universo de expectativas, que representem um desafio em relação às suas possibilidades atuais e suas experiências anteriores de leitura, apoiando-se nas marcas linguísticas, em seu conhecimento sobre os gêneros e a temática e nas orientações dadas pelo professor.
- (EF69LP50) Elaborar texto teatral, a partir da adaptação de romances, contos, mitos, narrativas de enigma e de aventura, novelas, biografias romanceadas, crônicas, dentre outros, indicando as rubricas para caracterização do cenário, do espaço, do tempo; explicitando a caracterização física e psicológica dos personagens e dos seus modos de ação; reconfigurando a inserção do discurso direto e dos tipos de narrador; explicitando as marcas de variação linguística (dialetos, registros e jargões) e retextualizando o tratamento da temática.
- (EF69LP51) Engajar-se ativamente nos processos de planejamento, textualização, revisão/edição e reescrita, tendo em vista as restrições temáticas, composicionais e estilísticas dos textos pretendidos e as configurações da situação de produção – o leitor pretendido, o suporte, o contexto de circulação do texto, as finalidades etc. – e considerando a imaginação, a estesia e a verossimilhança próprias ao texto literário.
- (EF69LP52) Representar cenas ou textos dramáticos, considerando, na caracterização dos personagens, os aspectos linguísticos e paralinguísticos das falas (timbre e tom de voz, pausas e hesitações, entonação e expressividade, variedades e registros linguísticos), os gestos e os deslocamentos no espaço cênico, o figurino e a maquiagem e elaborando as rubricas indicadas pelo autor por meio do cenário, da trilha sonora e da exploração dos modos de interpretação.
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- (EF69LP53) Ler em voz alta textos literários diversos – como contos de amor, de humor, de suspense, de terror; crônicas líricas, humorísticas, críticas; bem como leituras orais capituladas (compartilhadas ou não com o professor) de livros de maior extensão, como romances, narrativas de enigma, narrativas de aventura, literatura infantojuvenil, – contar/recontar histórias tanto da tradição oral (causos, contos de esperteza, contos de animais, contos de amor, contos de encantamento, piadas, dentre outros) quanto da tradição literária escrita, expressando a compreensão e interpretação do texto por meio de uma leitura ou fala expressiva e fluente, que respeite o ritmo, as pausas, as hesitações, a entonação indicados tanto pela pontuação quanto por outros recursos gráfico-editoriais, como negritos, itálicos, caixa-alta, ilustrações etc., gravando essa leitura ou esse conto/reconto, seja para análise posterior, seja para produção de audiobooks de textos literários diversos ou de podcasts de leituras dramáticas com ou sem efeitos especiais e ler e/ou declamar poemas diversos, tanto de forma livre quanto de forma fixa (como quadras, sonetos, liras, haicais etc.), empregando os recursos linguísticos, paralinguísticos e cinésicos necessários aos efeitos de sentido pretendidos, como o ritmo e a entonação, o emprego de pausas e prolongamentos, o tom e o timbre vocais, bem como eventuais recursos de gestualidade e pantomima que convenham ao gênero poético e à situação de compartilhamento em questão.
- (EF69LP54) Analisar os efeitos de sentido decorrentes da interação entre os elementos linguísticos e os recursos paralinguísticos e cinésicos, como as variações no ritmo, as modulações no tom de voz, as pausas, as manipulações do estrato sonoro da linguagem, obtidos por meio da estrofação, das rimas e de figuras de linguagem como as aliterações, as assonâncias, as onomatopeias, dentre outras, a postura corporal e a gestualidade, na declamação de poemas, apresentações musicais e teatrais, tanto em gêneros em prosa quanto nos gêneros poéticos, os efeitos de sentido decorrentes do emprego de figuras de linguagem, tais como comparação, metáfora, personificação, metonímia, hipérbole, eufemismo, ironia, paradoxo e antítese e os efeitos de sentido decorrentes do emprego de palavras e expressões denotativas e conotativas (adjetivos, locuções adjetivas, orações subordinadas adjetivas etc.), que funcionam como modificadores, percebendo sua função na caracterização dos espaços, tempos, personagens e ações próprios de cada gênero narrativo.
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- (EF69AR24) Reconhecer e apreciar artistas e grupos de teatro brasileiros e estrangeiros de diferentes épocas, investigando os modos de criação, produção, divulgação, circulação e organização da atuação profissional em teatro.
- (EF69AR25) Identificar e analisar diferentes estilos cênicos, contextualizando-os no tempo e no espaço de modo a aprimorar a capacidade de apreciação da estética teatral.
- (EF69AR26) Explorar diferentes elementos envolvidos na composição dos acontecimentos cênicos (figurinos, adereços, cenário, iluminação e sonoplastia) e reconhecer seus vocabulários.
- (EF69AR27) Pesquisar e criar formas de dramaturgias e espaços cênicos para o acontecimento teatral, em diálogo com o teatro contemporâneo.
- (EF69AR28) Investigar e experimentar diferentes funções teatrais e discutir os limites e desafios do trabalho artístico coletivo e colaborativo.
- (EF69AR29) Experimentar a gestualidade e as construções corporais e vocais de maneira imaginativa na improvisação teatral e no jogo cênico.
- (EF69AR30) Compor improvisações e acontecimentos cênicos com base em textos dramáticos ou outros estímulos (música, imagens, objetos etc.), caracterizando personagens (com figurinos e adereços), cenário, iluminação e sonoplastia e considerando a relação com o espectador.
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Propostas de atividades
Atividade 1 – Explorando aspectos leitores
Antes da leitura
O objetivo das atividades pré-leitura é proporcionar ao leitor um espaço para antecipação do conteúdo temático da obra, a fim de poder contribuir para a compreensão do texto durante as etapas de leitura. Além disso, nesse momento, o professor pode fomentar questões importantes sobre a obra, ampliando as possibilidades de análise e interpretação por parte dos estudantes.
Pensando nisso, trazemos algumas orientações para favorecer essa dinâmica
- Leia previamente a obra, destacando elementos pertinentes a serem trabalhados com os estudantes, tanto em relação aos aspectos discursivos como linguísticos.
- Compartilhe a proposta de leitura com a turma. Como se trata de um romance, escrito em capítulos, faça um planejamento de leitura e compartilhe-o com a turma.
- Apresente a capa do livro A dura vida de Maria Mollee comente que se trata de um romance. Questione-os sobre o que podem antecipar do conteúdo da obra pelo título e pela ilustração da capa. Elenque outras questões que podem ser feitas com base na capa, permitindo que os estudantes consigam mobilizar seus conhecimentos prévios sobre o gênero.
- Comente com eles sobre a autora e a ilustradora da obra. É muito importante que eles saibam que se trata de uma história atual, para que conheçam um pouco mais do contexto de produção da obra.
- Leia em voz alta as informações contidas na quarta capa e pergunte se algo sobre o conteúdo antecipado mudou.
- Pergunte se sabem o que é “maria-mole” e leia o verbete a seguir para que eles conheçam o doce.
Maria-mole: A "maria-mole" é um doce típico brasileiro, feito com açúcar, claras em neve, gelatina incolor e – opcionalmente – coco ralado para a cobertura. Depois de pronto, o doce fica mole, com a consistência esponjosa semelhante à do marshmallow, mas não pegajoso. É bastante apreciado nas festas juninas, equivalendo a um "marshmallow brasileiro". - Questione-os sobre o que esperam de uma personagem que tem esse nome, como ela deve ser fisicamente e psicologicamente.
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Atividade 2 – Desvendando a leitura
Durante a leitura
O objetivo das atividades de leitura e pós-leitura é promover a leitura colaborativa e dialogada da obra, estimulando o gosto pelo gênero e favorecendo o desenvolvimento de competências leitoras. Além disso, os estudantes podem desenvolver a sensibilidade estética, a imaginação e também a criticidade.
O livro A dura vida de Maria Molle permite trabalhar conteúdos específicos de Língua Portuguesa, especialmente aqueles destinados aos 6os e 7os anos do Ensino Fundamental. Cabe ao professor realizar o planejamento confirme a necessidade de cada turma. Auxiliaremos o planejamento, elencando algumas sugestões de como conduzir a leitura da obra.
- Mostre a capa do livro e leia as informações contidas nela, complementando com as informações trazidas anteriormente. É importante que os estudantes também possam comentar sobre os elementos que veem na capa para, depois de lida a obra, observarem-na novamente, percebendo os sentidos que antes não tinham relacionado com o enredo.
- Explore com eles o mapa do Reino de Lunnain. Você pode perguntar: “O que mais chama atenção de vocês? Que lugares aparecem no mapa? Por que ele aparece no começo do livro e não no final? Vocês já leram outros livros que têm um mapa dos cenários da história? Quais? Por que o mapa é importante para o leitor? O que se pode esperar de um livro que tem um mapa?”. O objetivo dos questionamentos é favorecer a reflexão sobre o que se pode antecipar do conteúdo temático com base nas informações dadas ao leitor para compreender ainda mais a história.
- Após a discussão, explique o planejamento de leitura, destacando suas escolhas para a leitura programada, e apresente a Parte 1 da obra. Não dê detalhes do que acontece no livro nem do motivo pelo qual ele é dividido em duas partes, porém programe uma conversa para que, depois de terminada a Parte 1, eles possam construir essa ideia.
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- Durante a leitura programada dos capítulos, garanta espaço para que os estudantes possam analisar os elementos verbais (linguagem e estética) e os elementos não verbais da história, mostrando as ilustrações e a forma como determinadas palavras são escritas.
- Comente que, antes de serem vendidos em forma de livro, os romances eram publicados em folhetins, ou seja, um capítulo de cada vez, em espaços dedicados a eles nos jornais. Por essa razão, é muito comum, no final de cada capítulo, o leitor ficar com curiosidade para saber o que vai acontecer em seguida. Isso faz com que ele, entre outras coisas, antecipe conteúdos e queira conversar com outros leitores sobre o assunto.
- Na Parte 1, Maria Molle está em busca do seu sonho de se tornar membro da guarda do Palácio; no entanto, na última página desta parte, ficamos sabendo que:
- Peça que pensem sobre a relação entre o nome da personagem principal e a forma das letras utilizadas. Mostre o doce maria-mole e veja se acham que a letra se parece com ele, indicando certo movimento. Aproveite para retomar a relação entre o doce e a personagem da história.
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Atividade 3 – Extrapolando a leitura
Após a leitura
- Após a leitura completa, é importante que os estudantes tenham um tempo para discutir os valores sociais, culturais e humanos e a visão de mundo do Reino de Lunnain, tendo a oportunidade de relacioná-los com a forma como nós nos organizamos em sociedade.
- Planeje momentos em que os estudantes possam analisar o texto narrativo ficcional percebendo as diferentes formas de composição do gênero; os recursos de coesão utilizados pela autora, que constroem a passagem do tempo e articulam seus acontecimentos; como são caracterizados os cenários e os personagens; e os efeitos de sentido dos tempos verbais, relacionando com os tipos de discursos, os verbos que são utilizados para a enunciação, o foco narrativo, entre outros elementos que julgar pertinentes de serem debatidos com os estudantes.
- Releia trechos da obra que tornem observáveis esses aspectos e proponha discussões a respeito. Faça questionamentos para que os estudantes precisem retomar a leitura, ampliando o sentido do texto.
- Quem era Maria Molle?
- Por que a vida dela era dura?
- Por que você acha que a autora não colocou o título “A difícil vida de Maria Molle”?
- Qual era o maior sonho de Maria?
- Ela conseguiu realizar esse sonho? Por quê?
- Como você descreveria Maria Molle?
- Qual é o acontecimento importante que finaliza a Parte 1?
- Além da protagonista da história, quem são os demais personagens?
- Em que cenários a história acontece?
- Quais elementos podem ser considerados fantasiosos?
- Você já teve algum sonho que não conseguiu realizar? O que fez a respeito?
- Quem narra a história? Como é possível saber disso?
- Se a história fosse narrada em terceira pessoa, quais outros elementos poderíamos conhecer?
- Quais cenas você achou mais interessantes no livro?
- Se pudesse mudar alguma coisa na história, o que você mudaria? Por quê?
É fundamental garantir um espaço para que os estudantes possam se posicionar criticamente em relação ao enredo, elaborando mesmo que oralmente uma resenha da obra.
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Possibilidades de interdisciplinaridade
O objetivo das atividades interdisciplinares é engajar os estudantes em práticas socais de leitura e de produção de texto, mobilizando conhecimentos tanto da área de Língua Portuguesa como de Arte.
A proposta é que eles façam uma adaptação do romance A dura vida de Maria Molle para o teatro, indicando rubricas para a caracterização do cenário, do tempo e espaço e para explicitar as características físicas e psicológicas dos personagens, e transformando as interações em discurso direto. Devem também analisar como farão as marcas de linguagem e a textualização do tema.
Sugerimos a seguir um procedimento para estimular os estudantes a se engajar ativamente nos processos de planejamento, retextualização, revisão, ensaio e apresentação do texto teatral.
- Elenque, com a ajuda da turma, os personagens do romance. Ao lado de cada personagem, peça que citem características físicas e psicológicas deles. Para facilitar, sugira que retornem ao texto e selecionem trechos que demonstrem como cada personagem age.
- Em conjunto, solicite que definam o contexto de produção. Pergunte: “O que faremos? Por que faremos? Para quem vamos nos apresentar? Quando a apresentação ocorrerá? Onde ela será feita?” Todas essas configurações da situação comunicativa interferem na forma de realização e de engajamento dos estudantes.
- Faça uma leitura compartilhada, na qual todos os estudantes tenham acesso a um trecho de obra teatral para que relembrem as características do gênero. Sugira que destaquem, utilizando canetas marca-textos, a forma como o texto é organizado (rubricas e fala dos personagens e do narrador).
- Proponha que o capítulo 1, da Parte 1, seja escrito coletivamente. Eles farão o ditado e você deve ser o escriba. Essa etapa é importante para modelizar o que se espera dos estudantes.
- Organize a turma em grupos e distribua os capítulos. Solicite que escrevam a adaptação do capítulo em forma de texto teatral. Circule entre os grupos para verificar se estão conseguindo. As dúvidas mais comuns podem ser trazidas para discussão com toda a turma.
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- Em outra aula, leve-os para a sala de informática ou outro local onde haja computadores e peça que digitem os capítulos escritos. Diga que, durante a digitação, eles podem alterar partes que percebam que estão sem sentido ou que estão faltando.
- Leia todos os capítulos e elenque as principais dificuldades. Planeje etapas de revisão coletiva com alguns dos trechos produzidos, para evidenciar as questões levantadas como problemáticas.
- Leve-os novamente à sala de computadores e peça que façam a revisão do texto segundo os critérios apresentados na revisão coletiva.
- Junte os capítulos e leia-os para a turma, preferencialmente projetando o texto. Sugira que, depois da primeira leitura, uma revisão seja feita para que o texto chegue à sua versão final.
- Organize a turma para representar a peça teatral, distribuindo os personagens entre eles. Se achar importante, faça dois grupos, assim todos podem se envolver. Lembre-os de que, além de atuar no palco, há outras atividades que podem ser realizadas: ajudar um colega a ler e a interpretar o texto, montar o cenário, escolher as roupas e os objetos de cena, ajudar no ensaio ajustando timbre de voz, pausas, hesitações, entonação e expressividade. Além disso, é preciso fazer a maquiagem e montar a trilha sonora.
- Realize leituras dramáticas (leitura em voz alta) para que eles possam ampliar a compreensão e a interpretação do texto por meio da leitura e da fala expressiva e fluente, respeitando o ritmo, as pausas e a entonação indicada pelos sinais de pontuação. Se puder, grave trechos das leituras e repasse para os estudantes avaliarem o que pode ser melhorado.
- Elabore um convite para que outras turmas possam assistir ao espetáculo teatral.
- Registre o momento da peça com fotos e vídeo.
- Ao final do processo, faça uma roda de avaliação da atividade, pedindo aos estudantes que falem sobre o que aprenderam e como se sentiram adaptando um romance para uma peça teatral.
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Referências bibliográficas
- BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, 2018. — Documento normativo que define as aprendizagens essenciais aos estudantes em todas as áreas do conhecimento, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio.
- CAMPS, Anna; COLOMER, Teresa. Ensinar a ler, ensinar a compreender. Porto Alegre: Artmed, 2002. — Esse livro ajuda o professor, pois promove reflexões sobre a experiência do ensino de leitura em sala de aula.
- COLOMER, Teresa. A formação do leitor literário. São Paulo: Global, 2017. — Esse livro aborda uma pesquisa realizada na Espanha e contém informações históricas e outros elementos importantes para análise e compreensão da produção literária destinada à infância e à juventude.
- COLOMER, Teresa. Andar entre livros: a leitura literária na escola. São Paulo: Global, 2007. — Essa obra auxilia a inovação do professor em sala de aula, propondo atividades de leitura na escola e fora dela.
- LERNER, Delia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2002. — Obra que promove uma reflexão sobre a forma como são propostas atividades de escrita e leitura na escola.
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Bibliografia complementar
Professor
- MACHADO, Ana Maria; ROCHA, Ruth. Contando histórias, formando leitores. São Paulo: Papirus 7 Mares, 2011.
- MOTTA, Andréa. Você sabe o que é foco narrativo? Conversa de Português. Rio de Janeiro, 23 abr. 2013. Disponível em: https://bit.ly/3LO51YT. Acesso em: 20 fev. 2021.
- PENNAC, Daniel. Como um romance. Tradução: Leny Werneck. Rio de Janeiro: Rocco, 2008.
- SCHNEUWLY; Bernard; DOLZ, Joaquim e outros. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2004. (Coleção As faces da Linguística Aplicada).
- TAVARES, Cristiane e WEISZ, Telma. Literatura e educação. Porto Alegre: Zouk, 2021.
Estudante
Romances
- AMADO, Jorge. O gato Malhado e a andorinha Sinhá. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2008.
- BANDEIRA, Pedro. A marca de uma lágrima. 5. ed. São Paulo: Moderna, 2020.
- BOJUNGA, Lygia. A bolsa amarela. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2013.
- MONTGOMERY, Lucy Maud. Anne de Green Gables. São Paulo: Ciranda Cultural, 2019.
Filmes
- In a Heartbeat: Animated Short Film. (Em uma batida de coração). Direção: Beth David e Stevan Bravo. Sarasota: Ringling College of Art and Design, 2017. 1 vídeo (4 min). Disponível em: https://bit.ly/3fhWqS9. Acesso em: 10 ago. 2022.
- La Luna. Direção: Enrico Casarosa. Richmond: Pixar, 2011. 1 vídeo (7 min). Disponível em: https://bit.ly/3dK55MM. Acesso em: 10 ago. 2022.
- Extraordinário. Direção: Stephen Chbosky. Vancouver: Lionsgate, 2017. 1 vídeo (113 min). Disponível nos streamings: Netflix, Google Play, YouTube e Apple TV.