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Material de apoio ao professor

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Carta aos professores

Todos sabemos que o trabalho com a leitura na Educação Básica tem como finalidade contribuir para a formação do indivíduo e para sua participação cidadã no mundo em que vive. A leitura constitui uma das maneiras privilegiadas de contato do sujeito com o modo de pensar da sociedade em que vive. Isso coloca o material escrito − impresso ou digital − como uma importante fonte de obtenção de informações e conhecimento sobre o mundo e as pessoas, e sobre a relação das pessoas entre si e com o mundo.

O tempo em que vivemos está repleto de materiais escritos – impressos ou digitais em diferentes plataformas – com os quais as pessoas se relacionam em maior ou menor grau. Isso acontece nas mais diferentes esferas: do cotidiano, acadêmica, médica, científica, jurídica, de lazer e entretenimento, de turismo, entre outras, e em cada uma delas circulam textos organizados nos respectivos gêneros e com conteúdos próprios. Dos celulares aos notebooks, passando por caixas e correios eletrônicos, vemos espaços e instrumentos de suporte e circulação de mensagens grafadas – e gráficas – cada vez mais indispensáveis na vida de todos.

No entanto, ainda que essas referências nos remetam à relação constituída entre as pessoas e a linguagem escrita, sabemos que a literatura desempenha um papel muito especial.

Segundo Candido (1998), a literatura é uma das necessidades humanas fundamentais e, como tal, deveria ser considerada direito básico e inalienável, pois atua na formação do caráter dos sujeitos. Para ele, as sociedades criam suas manifestações literárias com base em suas crenças, seus sentimentos e sua moralidade. O autor afirma, ainda, que:

os valores que a sociedade preconiza, ou os que considera prejudiciais, estão presentes nas diversas manifestações da ficção, da poesia e da ação dramática. A literatura confirma e nega, propõe e denuncia, apoia e combate, fornecendo a possibilidade de vivermos dialeticamente os problemas. (CANDIDO, 1998, p. 113).

Por isso, ele defende a ideia de que não se pode considerar a experiência literária inofensiva ou inócua. Ao contrário, trata-se de uma experiência que não corrompe nem edifica, mas humaniza o homem, ao trazer livremente a ele − e, portanto, ao leitor − tanto o bem quanto o mal, possibilitando a vivência de diferentes realidades orientadas por princípios e preceitos distintos.

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A humanização seria, então, um processo que possibilita o exercício da reflexão, a constituição de diferentes saberes, a disponibilidade para o outro, a identificação e o afinamento das emoções, a compreensão dos problemas da vida e da complexidade do mundo e das pessoas, o cultivo do amor e o senso de beleza, tornando-nos mais abertos à sociedade e ao semelhante.

Diante disso, não é difícil compreender que, de todos os gêneros textuais, o trabalho com literatura – como a própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC) propõe – precisa de um cuidado especial do professor.

Por isso, foram elaboradas as orientações que serão apresentadas a seguir, as quais abrangem questões relativas à especificidade do texto literário; ao conhecimento do gênero da obra; aos critérios adotados na seleção da obra a ser estudada; às características da situação de comunicação na qual o texto a ser lido foi elaborado; ao estilo de escrita da autora, considerando os assuntos mais abordados em sua obra como um todo e no texto a ser estudado; às características linguístico-discursivas e semióticas da obra em estudo; aos procedimentos didáticos a serem adotados no planejamento do estudo da obra; à avaliação do estudo realizado.

Além dessas questões, serão apresentadas sugestões para a organização de um trabalho interdisciplinar e referências bibliográficas para estudo, visando ao aprofundamento e/ou à ampliação do conhecimento a respeito da obra e do trabalho desenvolvido.

O planejamento cuidadoso e a relação efetivamente reflexiva e dialógica com os estudantes poderão garantir o sucesso do trabalho, resultando na formação de um leitor mais proficiente, de um cidadão mais consciente das questões de sua época e de uma pessoa mais humanizada.

Vamos, juntos, nos embrenhar pela vereda da literatura, porque ler, conversar sobre o que foi lido, e perceber a si mesmo e ao outro nas reflexões coletivas pode nos tornar pessoas melhores.

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Sobre a obra

A autora

Karina Almeida

Escritora e pesquisadora, apaixonada por livros desde pequena, Karina Almeida adora ler e ouvir histórias. Nascida em São Paulo, em 1981, é formada em publicidade pelo Mackenzie, com mestrado na Paris 1, e atualmente cursando o doutorado em História da Arte na Unifesp. Auxiliou na fundação, em 2017, do Coletivo de Pesquisa e Criação Literária Jacaré na Porta, o qual desenvolve pesquisa e projetos de literatura infantojuvenil. Em 2020, publicou Muito prazer, sou Mário de Andrade, obra que reúne três grandes paixões da autora: literatura, história e a cidade de São Paulo.

A ilustradora

Ágatha Kretli

A designer gráfica Ágatha Kretli formou-se em 2008 em Design Gráfico pela Universidade Vale do Rio Doce, em Minas Gerais. Em 2021, concluiu o mestrado em Design da Comunicação pela Universidade de Lisboa, Portugal. Com uma linguagem artística única, Ágatha tem diversas publicações na área comercial, livros, revistas e campanhas publicitárias. Para saber mais, visite o site https://bit.ly/3RfUNSb e conheça o portfólio da artista.

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A obra

Sinopse

A dura vida de Maria Molle é uma narrativa envolvente, curiosa e muito divertida. A protagonista é uma garota muito especial. Ela mora em uma cidade pequena, mas quando chega a hora de escolher uma profissão, muda-se para uma cidade grande, onde buscará o sonho de se tornar uma guarda do Palácio do Reino de Lunnain. Contudo, Maria tem uma característica bem peculiar: seu corpo é bastante flexível e isso pode prejudicar seus planos.

Vivendo uma aventura de autodescoberta e superação, Maria Molle enfrentará dificuldades e ressignificará seus objetivos de vida com base nas experiências vivenciadas no palácio. Amizade, primeiro amor e aceitação são alguns dos temas abordados nessa obra.

O leitor tem acesso aos sentimentos e pensamentos de Maria, uma vez que ela é a narradora-personagem do romance. Além de compartilhar suas preocupações, Maria Molle conversa com os leitores: “Você também deve estar com muitas dúvidas, não é? Quem sou eu? Quem é Mark? Que palácio é esse? Vamos começar a esclarecer, então. Meu nome é Maria Molle. E nas próximas páginas vou explicar tudo direitinho” (p. 10). Nessa perspectiva, a obra literária constitui um espaço no qual é oferecido ao leitor um conjunto de recursos por meio dos quais é possível estabelecer relações com o texto.

A obra A dura vida de Maria Molle é um romance ficcional dividido em duas partes: a primeira tem 14 capítulos e a segunda, 13. O romance é um gênero textual que contém uma narrativa longa, escrita em prosa. Por se tratar de uma obra mais extensa, permite que a história seja contada com uma gama maior de detalhes, acontecimentos e possibilidades.

Assim como os contos e as novelas, os romances também são gêneros literários, em sua maioria ficcionais, e contêm elementos da estrutura narrativa semelhantes aos demais: enredo, tempo, espaço, personagens, narrador e construção do discurso (direto ou indireto).

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Contexto de recepção da obra

Por que ler essa obra

A dura vida de Maria Molle é um romance envolvente, que instiga os jovens leitores a descobrir como a protagonista, cujo corpo é todo molinho, poderá realizar seu desejo de fazer parte da guarda real. Ao perseguir esse sonho, Maria encontra algumas dificuldades, muitas aventuras e uma boa dose de autoconhecimento, com ajuda de Miraldina, sua amiga, de Mark, um confeiteiro que arranca suspiros, e de Rebeca, uma raposa que fala.

Apesar de ser um romance ficcional com elementos fantásticos, A dura vida de Maria Molle apresenta problemáticas comuns aos estudantes dessa faixa etária – como conhecer as próprias emoções e aprender a lidar com elas, motivar-se a ir além, cuidar dos relacionamentos e reconhecer os sentimentos dos outros –, sobretudo quando Molle é obrigada a repensar seus sonhos, no momento em que é expulsa da escola de guardas reais (final da Parte 1).

A obra também se destaca por razões linguístico-discursivas, uma vez que traz um enredo narrado pela protagonista jovem, envolvendo o leitor e transportando-o para “dentro” da história devido à descrição detalhada dos acontecimentos.

Reprodução de trecho exemplificando a descrição detalhada dos acontecimentos. Se lê: ”Ouvi as pessoas exclamarem um 'ohhhhh'. Lembrei até dos meus tempos de circo (sim, eu já fui estrela de circo, mas falo disso depois). Mas não era bem um 'óóóhhhhh', parecia mais um 'ôôôôhhhhwww'. Não sei explicar direito as diferenças dos 'ooohhhhh'.”

Além disso, a obra tem momentos engraçados, tristes e surpreendentes, prendendo o leitor do começo ao fim.

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O trabalho com a obra em sala de aula

Algumas recomendações que podem auxiliar o professor na organização do trabalho

Ao planejar o trabalho com uma obra literária, é preciso considerar tanto as características específicas dos textos dessa esfera/campo de atuação quanto aquelas que são comuns a todos os textos.

Ademais, é fundamental considerar que os sentidos de um texto estão na relação entre o texto e o leitor, o qual, ao reconstituir os sentidos do texto, ativa seu repertório prévio de conhecimentos e saberes relativos tanto ao objeto (texto, gênero, linguagem) quanto ao conteúdo temático do texto (situações referidas, sentimentos sugeridos, espaços e práticas sociais implicados, valores) e ao seu autor (estilo, temáticas prediletas, contexto das obras, entre outros aspectos). Nessa perspectiva, a obra literária constitui um espaço no qual é oferecido ao leitor uma gama de possibilidades de interpretação, o que acontece por meio da interlocução, da “conversa” do leitor com o texto, e de seus recursos e referências.

Por essa razão, é indispensável que seja feita a problematização desses aspectos, de modo a ampliar a compreensão dos estudantes. Para ser concretizado, esse processo de interlocução dialógica deve ser modelizado pelo professor – em trabalho coletivo – e replicado em situações de interação entre os estudantes (em grupos ou duplas).

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Antes da leitura

A leitura programada no trabalho com obras literárias

A leitura programada é uma modalidade didática de trabalho que tem a finalidade de criar as condições necessárias para ampliar a proficiência do estudante no que se refere à leitura de obras mais extensas e mais complexas. Nela, são planejados estudos pontuais da obra selecionada.

Para tanto, é preciso analisar a obra previamente, destacando aspectos a serem estudados, e que sejam considerados indispensáveis para sua compreensão com o maior grau possível de profundidade do que os estudantes fariam de modo independente.

Analise o grau de dificuldade provável que a turma teria em cada trecho selecionado para definir estratégias de abordagem e recursos auxiliares de problematização.

Planeje as atividades a serem realizadas antes da leitura da obra: recuperação do contexto de produção e dedução dos possíveis impactos desse contexto histórico nos diversos sentidos do texto; conhecimento do autor no que se refere ao momento em que escreveu a obra, aos temas recorrentes e ao estilo de escrita (para isso é importante ler com os estudantes, previamente, uma obra curta do autor, para que eles se aproximem de seu modo de escrever antes de começarem o estudo da obra de maior extensão e/ou complexidade).

Em seguida, planeje as atividades a serem realizadas durante a leitura da obra. Leve em consideração que a leitura de cada trecho deverá ser prevista com um intervalo de tempo entre elas, para que o leitor possa ir construindo ideias e possibilidades de como Maria Molle sairá de cada situação.

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Organização do trabalho

Habilidades priorizadas

HABILIDADES DA BNCC PREVISTAS NO TRABALHO

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Propostas de atividades

Atividade 1 – Explorando aspectos leitores

Antes da leitura

O objetivo das atividades pré-leitura é proporcionar ao leitor um espaço para antecipação do conteúdo temático da obra, a fim de poder contribuir para a compreensão do texto durante as etapas de leitura. Além disso, nesse momento, o professor pode fomentar questões importantes sobre a obra, ampliando as possibilidades de análise e interpretação por parte dos estudantes.

Pensando nisso, trazemos algumas orientações para favorecer essa dinâmica

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Atividade 2 – Desvendando a leitura

Durante a leitura

O objetivo das atividades de leitura e pós-leitura é promover a leitura colaborativa e dialogada da obra, estimulando o gosto pelo gênero e favorecendo o desenvolvimento de competências leitoras. Além disso, os estudantes podem desenvolver a sensibilidade estética, a imaginação e também a criticidade.

O livro A dura vida de Maria Molle permite trabalhar conteúdos específicos de Língua Portuguesa, especialmente aqueles destinados aos 6os e 7os anos do Ensino Fundamental. Cabe ao professor realizar o planejamento confirme a necessidade de cada turma. Auxiliaremos o planejamento, elencando algumas sugestões de como conduzir a leitura da obra.

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Reprodução de página exemplificando elementos não verbais. Se lê: Você tem ideia do que fez, senhorita Molle? — ele continuou. — Você não deveria estar aqui! Não está preparada para a troca da guarda. Você pode ser expulsa!
Reprodução de página. Se lê: Por decisão do diretor Aguilhão, a aluna Maria Molle está suspensa por uma semana e será banida para sempre da cerimônia de troca da guarda. Sem mais, diretor Aguilhão.

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Atividade 3 – Extrapolando a leitura

Após a leitura

  1. Quem era Maria Molle?
  2. Por que a vida dela era dura?
  3. Por que você acha que a autora não colocou o título “A difícil vida de Maria Molle”?
  4. Qual era o maior sonho de Maria?
  5. Ela conseguiu realizar esse sonho? Por quê?
  6. Como você descreveria Maria Molle?
  7. Qual é o acontecimento importante que finaliza a Parte 1?
  8. Além da protagonista da história, quem são os demais personagens?
  9. Em que cenários a história acontece?
  10. Quais elementos podem ser considerados fantasiosos?
  11. Você já teve algum sonho que não conseguiu realizar? O que fez a respeito?
  12. Quem narra a história? Como é possível saber disso?
  13. Se a história fosse narrada em terceira pessoa, quais outros elementos poderíamos conhecer?
  14. Quais cenas você achou mais interessantes no livro?
  15. Se pudesse mudar alguma coisa na história, o que você mudaria? Por quê?

É fundamental garantir um espaço para que os estudantes possam se posicionar criticamente em relação ao enredo, elaborando mesmo que oralmente uma resenha da obra.

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Possibilidades de interdisciplinaridade

O objetivo das atividades interdisciplinares é engajar os estudantes em práticas socais de leitura e de produção de texto, mobilizando conhecimentos tanto da área de Língua Portuguesa como de Arte.

A proposta é que eles façam uma adaptação do romance A dura vida de Maria Molle para o teatro, indicando rubricas para a caracterização do cenário, do tempo e espaço e para explicitar as características físicas e psicológicas dos personagens, e transformando as interações em discurso direto. Devem também analisar como farão as marcas de linguagem e a textualização do tema.

Sugerimos a seguir um procedimento para estimular os estudantes a se engajar ativamente nos processos de planejamento, retextualização, revisão, ensaio e apresentação do texto teatral.

  1. Elenque, com a ajuda da turma, os personagens do romance. Ao lado de cada personagem, peça que citem características físicas e psicológicas deles. Para facilitar, sugira que retornem ao texto e selecionem trechos que demonstrem como cada personagem age.
  2. Em conjunto, solicite que definam o contexto de produção. Pergunte: “O que faremos? Por que faremos? Para quem vamos nos apresentar? Quando a apresentação ocorrerá? Onde ela será feita?” Todas essas configurações da situação comunicativa interferem na forma de realização e de engajamento dos estudantes.
  3. Faça uma leitura compartilhada, na qual todos os estudantes tenham acesso a um trecho de obra teatral para que relembrem as características do gênero. Sugira que destaquem, utilizando canetas marca-textos, a forma como o texto é organizado (rubricas e fala dos personagens e do narrador).
  4. Proponha que o capítulo 1, da Parte 1, seja escrito coletivamente. Eles farão o ditado e você deve ser o escriba. Essa etapa é importante para modelizar o que se espera dos estudantes.
  5. Organize a turma em grupos e distribua os capítulos. Solicite que escrevam a adaptação do capítulo em forma de texto teatral. Circule entre os grupos para verificar se estão conseguindo. As dúvidas mais comuns podem ser trazidas para discussão com toda a turma.

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  1. Em outra aula, leve-os para a sala de informática ou outro local onde haja computadores e peça que digitem os capítulos escritos. Diga que, durante a digitação, eles podem alterar partes que percebam que estão sem sentido ou que estão faltando.
  2. Leia todos os capítulos e elenque as principais dificuldades. Planeje etapas de revisão coletiva com alguns dos trechos produzidos, para evidenciar as questões levantadas como problemáticas.
  3. Leve-os novamente à sala de computadores e peça que façam a revisão do texto segundo os critérios apresentados na revisão coletiva.
  4. Junte os capítulos e leia-os para a turma, preferencialmente projetando o texto. Sugira que, depois da primeira leitura, uma revisão seja feita para que o texto chegue à sua versão final.
  5. Organize a turma para representar a peça teatral, distribuindo os personagens entre eles. Se achar importante, faça dois grupos, assim todos podem se envolver. Lembre-os de que, além de atuar no palco, há outras atividades que podem ser realizadas: ajudar um colega a ler e a interpretar o texto, montar o cenário, escolher as roupas e os objetos de cena, ajudar no ensaio ajustando timbre de voz, pausas, hesitações, entonação e expressividade. Além disso, é preciso fazer a maquiagem e montar a trilha sonora.
  6. Realize leituras dramáticas (leitura em voz alta) para que eles possam ampliar a compreensão e a interpretação do texto por meio da leitura e da fala expressiva e fluente, respeitando o ritmo, as pausas e a entonação indicada pelos sinais de pontuação. Se puder, grave trechos das leituras e repasse para os estudantes avaliarem o que pode ser melhorado.
  7. Elabore um convite para que outras turmas possam assistir ao espetáculo teatral.
  8. Registre o momento da peça com fotos e vídeo.
  9. Ao final do processo, faça uma roda de avaliação da atividade, pedindo aos estudantes que falem sobre o que aprenderam e como se sentiram adaptando um romance para uma peça teatral.

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Referências bibliográficas

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Bibliografia complementar

Professor

Estudante

Romances

Filmes